domingo, 24 de abril de 2011

Ciúme Animal - Parte Um.

Eu nunca fui de me apaixonar. Desde que deixei Serafina Corrêa pra trás, com Laerte e Fábio de carona, meu objetivo era: tomar todas as cervejas da capital e NUNCA casar – nem com uma mulher da capital, nem com uma do interior. Meus dois colegas de apartamento tinham o mesmo projeto de vida, e em dois anos tínhamos alcançado avanços significativos comprovados com o aumento da barriga e uma lista de umas duzentas gurias de mais de quatorze bairros diferentes de Porto Alegre. Nada parecia poder deter-nos. Até que a fatídica sexta-feira chegou. O dia em que Fábio nos convidou pra um aquece no apartamento de uma colega de trabalho, a Bianca.

Fomos tranquilamente até a José do Patrocínio, dividindo algumas cervejas e tentando entender como faríamos uma disputa justa pela garota, caso ela não tivesse mais duas amigas. Não chegamos a nenhuma conclusão, por dois motivos: o primeiro, obviamente era que, cada qual se julgava mais interessante e defendia a tese de que ela o escolheria, e não o contrário, e a segunda foi determinante: eu me apaixonei por ela. Sim. Cinco minutos dentro do JK cheio de quadros dos Stones, uma garrafa de Ypioca como decoração na sala e uma coletânea do Indiana Jones, respirando o mesmo ar que aquela perfeição de mulher com olhos verdes, que flertavam com os meus, enquanto ela bebia um drink com chá preto e vodka me fizeram entender que ela era a mulher que me faria largar a cerveja e trocar por uma esteira. Meus dois amigos, embora compartilhassem da mesma perplexidade que eu diante de tanta beleza, perceberam que o jogo estava três a zero pra mim, e já estávamos nos acréscimos do segundo tempo. Bem por isso, trataram de fazer seus contatos pra noite com os amigos de Bianca que estavam conosco.

Conversamos durante todo aquece. Ela era psicóloga, trabalhava numa grande rede de lojas como supervisora de recursos humanos e gostou de saber que eu era funcionário público. Fomos pra festa tão falantes quanto bêbados, enquanto meus amigos pareciam adivinhar – e lamentar – minha tão visível paixão. Sabiam que meu comportamento não era normal, as cantadas não eram as mesmas, e isso os fez perceber que talvez ali estivessem perdendo um parceiro de solteirice, que era pra eles algo parecido com a morte.

Entramos num bar da João Alfredo, e Laerte e Fábio saíram a caça enquanto eu decidia de que forma beijaria ela.

- Eu queria que meu primeiro beijo fosse contigo. Eu disse.

- Primeiro beijo, como assim? Ela se surpreendeu.

-Não creio que eu vá lembrar de algum depois do teu.

Desse momento até abrir a porta do apartamento dela, foram cinco minutos.

Entramos derrubando tudo tal qual uma cena dessas de novela, afoitos um pelo outro. Tratei de trancar a porta e encostei-a na parede, chegando o mais perto de eu poderia até aquele momento. Era incrível. Tão incrível que comecei a sentir uma sensação até então nova, como se algo estivesse arrancando um pedaço de mim. E como por mágica senti uma tremenda mordida na perna. Um cachorro, me mordendo! Automaticamente transferi a dor da mordida na perna pro resto do corpo e acabei mordendo a boca da moça, como se fosse uma corrente elétrica de mordidas se espalhando até que eu arrancasse um pedaço de lábio de Bianca, involuntariamente. Ela gritou, eu gritei. E as luzes se acenderam. Só então notei a presença de Rússia, o cachorro dela que estraçalhava um pedaço da minha calça, feliz. Bianca tinha um lábio sangrando, e com toda delicadeza me pediu desculpa pela atitude do seu amigável cãozinho. Explicou-me que o mantinha preso na lavanderia, por isso eu não o havia visto antes. Como se precisasse. Todo o clima foi estragado por um cão que tinha no nome de Rússia, mas nada de socialismo em seu comportamento. Pensava que a dona era só dele e não parecia estar disposto a compartilhar. Depois de termos feito nossos curativos, resolvi ir embora. Eu podia ter ficado e dormido de conchinha com ela, mas, o general canino estava ocupando parte da cama, e eu é que não ia brigar com um cachorro ciumento.

Fui embora levando um buraco nas calças, o perfume e a paixão por Bianca. E sabia que aquele amor tinha um empecilho, e ele tinha nome: Rússia.

4 comentários:

Aili disse...

hahahahahahahahaha.Adoreiiiii!!
Ah nem é novidade..já disse que adoro seus textos e odeio o fato de tu escrever melhor que eu...huahuauhauhahua....adorei o nome do cachorro...mas regimes socialistas podem ser verdadeiras ditaduras...(parte histórica entrando, tenho q parar com isso.
Enfim, óteemo como sempre tá de parabéns e me devendo agora duas visitas no blog!!!
Besos guapo!
Thaynná

Ricardo Bertolucci Reginato disse...

Genial!

Vinícius Schneider disse...

"perdemo" o parceiro.

JulLi disse...

ahuahuahuah, adoro o que vc escreve hauahuahua.
Beeejos menino